Martedì

Qual é o tempo da queima de um cigarro?
Qual é o tempo ideal do beijo?
Qual é o tempo da vontade da chuva ou de Deus, que como disse Tereza, é quem chora?

Qual é o tempo suficiente para uma saia rodar e rodar e rodar pelo salão?
E o tempo da luz quando baixa?
E o tempo da duração do perfume?
E do eco da onda?
Quanto tempo eu sangro?

Quanto tempo a groselha finge ser sangue?
Quanto tempo dura o sabor da Sangria na nossa boca doce?

Quanto tempo eu posso correr na chuva, como quem voa?
Quanto tempo eu suporto esperar pela sua mensagem? 
Quanto tempo eu posso ocupar a área verde do prédio?
Quanto tempo dura uma planta suculenta?
E um beija-flor? 
E um hipopótamo?
Um pato?
Um coração infartado?

Quanto tempo dura a memória de um sabor? 
E a dor do orgulho?
Quanto tempo cabe num poço de raiva? 
Quanto tempo eu gostaria que durasse aquela nossa dança?
Quantas horas semanais eu deveria ficar na rede?
E com o canudinho? Em quanto tempo se chupa o milkshake?
Quantas vezes por segundo batem as baquetas na bateria?
Quantas férias ainda poderia desfrutar?

Quantas horas eu posso ficar dentro do mar? Por quanto tempo as minhas mãos e pés conseguem se amarrotar sem se desfazer?
Quanto tempo dura a guerra em seu país? 
Quanto tempo dura a reputação do vizinho?
E a lembrança dos quadros de Frida Kahlo?

Quanto tempo deveriam durar os agudos do mundo? E os graves?
Quanto tempo dura um esmalte nas unhas dos pés da minha tia?
E daquela festa, quando tempo dura a sua lembrança? 
Quanto tempo dura um racha de dois carros?
Um susto?
Um orgasmo?
A paz?
A tinta na parede?
O creme na pele, a tatuagem, o eriçar dos pelos, o gosto, o gesto, o preço da comida, a lida, o amarelado da página, as cortinas, as pestanas, as ganas, as famas.

Quanto duram?
Quanto tempo cabem nos relógios de areia?
Será o mesmo tempo dos relógios de sol?
E os de corda, andam no mesmo compasso?

Quanto tempo dura o teu soluço?
E se eu te ajudar?

Road Movie

Escorregar a mão pelo corpo sob a água morna

Fugir de você num instante

Cantar com a cara pra fora da janela, dentro de um vento frio

Um chá grosso

Uma saudade alada

Um punhado de saliva

Um picho

Um baile

Um pneu cantando

Um monstro

O medo disfarçado de mistério

A palavra glória

A vitrola do vizinho

A baba do quiabo e a moleza do caqui

A mentira

O bolor

Um santo pelado

A vida quando parece do avesso

Uma canção de Nino Rota

A palavra tramonto

A Fuga nº 2

O cheiro do ônibus

O ritual do adeus

A pressa e a volta

O vazio

Uma harpa

Uma ferpa

Um azeite bom

Um caroço no meio do músculo

Um piano de cauda

Um pudim

O perfume da minha avó Elisa

Uma flecha

Você dançando no meu coração

Um galo cantando

Um vestido comprido

Uma pausa

A palavra sabor

Um satélite

Um jornal velho

Todas as notícias que perdi

O cálculo justo

A medida justa

Um agora, largo e azul.

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Foto: Mirela Persichini

Licença🌿

Essa é a entrada da casa de Dona Alzira, que foi minha vizinha por 10 anos. Sua morte, ano passado, foi estranha, fedorenta, solitária. Solitária não, seu cachorro Lorde tava lá, mordendo quem ousasse chegar perto. Desejei tanto que ela fosse enterrada ali mesmo, no terreno da sua capina diária. Eu nunca havia entrado lá, até o dia desse ensaio fotográfico, em que minha querida prima Isadora Fonseca propôs um olhar sobre meu cotidiano e topou registrar uma singela homenagem minha à vizinha. Chegando lá encontrei muitas espadas de São Jorge, como essa na entrada da casa. E esta foto me veio justo hoje, no dia de Ogum! Dona Alzira era uma velha menina negra de trancinhas, cheirava a leite de rosas, era testemunha de Jeová, dava limões aos vizinhos e pouquíssimas palavras. Chorei carregando o seu retrato. Cantei pelo encantamento de sua alma. Dancei pela proteção da sua terra.

– Dona Alzira, a senhora não acredita mas tem um cavalo enorme por baixo de um cavaleiro poderoso no meio da sua roça. As plantas são testemunhas! O mal aqui não persevera, há força, coragem e muita luz! ✨

Foto: Isadora Fonseca Photographie

Boas vindas

Olá, seja muito bem-vinda(o) ao meu sítio! Sou uma artista ávida por movimento e bons encontros. Investigo a presença em suas múltiplas manifestações (som, movimento, palavra, cena ou silêncio). Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre meus projetos artísticos, oficinas, além de acessar fotos, vídeos, agenda e endereços de contato. Espero que faça boa visita. Me conte depois o que achou! Um abraço de mundo, Luísa Bahia.

Festival DORAS

O Festival DORAS – encontro de mulheres – aconteceu em março de 2019 em Belo Horizonte. Realizado pela Plataforma DORAS, a iniciativa homenageou novamente a vida de Marielle Franco. Em sua 2ª edição o Festival contou com uma programação ampla, composta por apresentações cênicas, shows, exposições, instalações, três oficinas, festa e roda de conversa. Em breve saem os registros desse encontro de arte, afeto, diversidade, empoderamento e resistência! Avante, mulheres! Que sejamos todas livres!