Vídeo-poema TATUADA

Tatuada é o vídeo-poema gravado na minha terra natal, Congonhas. Unindo poesia, performance, música e vídeo, o trabalho é uma experimentação de linguagem e de relação com o espaço histórico e efêmero.

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TATUADA

Eu queria ter a pele tatuada, toda ela. Desenhada com as minhas palavras de valor, para não cair na vala das linhas tortas, dos espaços abismos. Ter rabiscados os impulsos mais certeiros e o carimbo dos dias de paz. Nenhum nome de alguém que tenha me arranhado o senso. Mas sim gritos de guerra, de vida, de susto. Caligrafia dançante para me manter acordada. Pele de cobra, chifres, asas. Flores roxas que florescem ao contrário. Coragem e covardia para lembrar-me do fio sempre tenso. Não sei como “vento” e “tempo”. Por toda a pele pontinhos, pontinhos, pontinhos, reticências que sirvam de grão, areia, cisco, poeira, pó. O desenho de vasos comunicantes. Silhueta de pintura rupestre com a leveza de um desenho na água. 2 leões, 1 saturno, 1 satélite. Útero. “Destino”, não sei como. Fé numa sola do pé. Rebeldia no outro. Impermanência no gogó, encantamento na nuca. Voz numa costela à esquerda. A saudade em algum lugar, preguiçosa. Na panturrilha direita, que puxa meu passo, a primeira pergunta que me lembro de ter feito “quando é que o amanhã chega?”. Por fim, o significado da minha terra, do tupi “kô gôi”: “o que sustenta, o que alimenta”, com uma tinta invisível, bem ali, no cantinho da alma.

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